Começo hoje uma série de posts sobre a Arábia Saudita, país que conhecemos ao longo de nove dias e que nos ensinou muita (MUITA) coisa. Primeiro, gostaria de compartilhar como fomos parar lá – afinal, é um país fechado ao turismo – e detalhar o nosso roteiro de viagem. Isso porque o país planeja abrir as portas ao turismo nos próximos meses, medida que vem acompanhando uma série flexibilizações nas leis propostas pelo príncipe e futuro rei Mohammed bin Salman.
*This post also has an English version.
Nosso programa: o Gateway KSA
Tudo começou com um convite inusitado de uma organização chamada Gateway KSA. O projeto, financiado pela agência Iyadine e o King Faisal Center for Research and Islamic Studies (KFCRIS), pretende levar estudantes e influenciadores de diversas parte do mundo para conhecer a Arábia Saudita, entender melhor os desafios e as mudanças que vêm ocorrendo no país e ampliarem o entendimento do mundo sobre um local complexo e em constante transformação. Eles arcam com todos os custos da viagem, inclusive com o visto. Achei uma iniciativa incrível!
Essas transformações têm a ver, principalmente, com a criação de leis nacionais que irão separar um pouco as normas vigentes no país do wahabismo, braço conservador do islã que atualmente dita as regras por ali. Por isso que falamos em “flexibilização” – as normas criadas há 30 anos, quando este regime entrou em vigor, são extremamente conservadoras. Pra você ter uma ideia, só a partir deste ano mulheres terão permissão para dirigir no país! Veja mais sobre a situação das mulheres na Arábia Saudita neste post.
As cidades que conhecemos na Arábia Saudita
Nosso roteiro tinha por objetivo mesclar atividades educacionais com as turísticas, para que ampliássemos nosso conhecimento ao mesmo tempo em que criávamos conteúdo lindo para promover o país. Eles não são bobos nem nada, né! Tivemos como base quatro cidades importantes: Riade (Rhyiad), Al-ʿUla, Jidá (Jeddah) e Dammam.

Riade (Rhyiad), a capital
Nossa primeira parada foi Riade, de onde chegam voos de Dubai ou Abu Dhabi (Emirados Árabes). Trata-se da capital e maior cidade do país, com 6,5 milhões de habitantes. Parece uma cidade em construção, com muuuitas obras no caminho entre o aeroporto e o centro. Lá ficam dois prédios modernosos que estão se tornando símbolos do país e do novo tempo de tranformações: o Kingdom Centre (com sua arquitetura maluca, que mais parece um abridor de garrafa) e a Faisaliah Tower – de onde se tem a vista mais legal do skyline (foto que abre esse post).
A Faisaliah Tower fica coladinha no King Faisal Center for Research and Islamic Studies, um centro de estudos moderno que também tem museu com diversos artefatos históricos. Pra estudantes achei bem interessante!
Na cidade conhecemos também algumas atrações históricas, como a Masmak Fortress (em frente à praça onde costumavam cortar os membros de ladrões e aplicar outras punições sangrentas, uf!) e o King Abdul Aziz Palace, palácio do rei que unificou a Arábia Saudita em 1932. O palácio fica do lado do Museu Nacional, com uma grande coleção de manuscritos, peças e documentos históricos. É ótimo para entender melhor a história do país e do islamismo.

Riade é também uma das cidades mais conservadoras do país. A abaya (manto longo que as mulheres são obrigadas a usar) são quase sempre pretas, e muitas vezes vêm acompanhadas de hijabs (o véu que cobre a cabeça e não é obrigatório pelas leis do país). Escrevi mais sobre as normas de vestimenta e comportamento no post sobre as mulheres na Arábia Saudita.
Al-`Ula, a porta de entrada para o deserto
A segunda parada da nossa viagem foi também a mais interessante para o turismo. Fiquei de queixo caído com a beleza do deserto na Arábia Saudita, com formações rochosas, tumbas milenares, dunas e muitas descobertas arqueológicas. Tanto que a região, chamada de Madain Saleh, foi declarada patrimônio histórico pela UNESCO. As mais de 100 tumbas esculpidas nas pedras são da civilização dos nabateus, a mesma que construiu Petra, na Jordânia. Dá pra imaginar?
Lá ficamos hospedados em tendas no meio do deserto, no maior estilo dos beduínos. Versão luxo, com banheiro limpinho e tudo. Hahaha! A experiência naquela região foi tão diferente que ganhou um post próprio – tem de passeio de camelo a “safári” de jipe. Confira aqui o post sobre o deserto na Arábia Saudita!
Jidá (Jeddah), a cidade moderna à margens do Mar Vermelho
Se Al-`Ula ganhou o prêmio de melhor cidade para o turismo, Jidá perdeu por bem pouquinho, viu. E é definitivamente a melhor cidade para se morar na Arábia Saudita! Além do clima mais leve de cidade litorânea, Jeddah é também menos conservadora. Por ali, é mais comum ver mulheres usando abayas abertas ou coloridas, por exemplo. E há também uma grande comunidade de estrangeiros graças à KAUST (King Abdullah University of Science and Technology), universidade de ponta criada em 2008 para atrair estudantes brilhantes e fomentar a pesquisa no país. Visitei o campus e, olha, parece coisa de filme futurista!
Agora o que me encantou mesmo nessa parte da viagem foi o passeio de barco que fizemos pelo Mar Vermelho – que eu não fazia ideia que era tão lindo, com água cristalina e recifes intocados! Tanto que escrevi um post especial só contando sobre nossa experiência em Jeddah (que lá eles pronunciam de um jeito muito bonitinho, é tipo “tché-dah” hahaha).
Ainda tivemos a oportunidade de nos encontrar com um grupo de mulheres da Effat University (a primeira a oferecer cursos de diversas áreas para mulheres) e conversar sobre suas vivências na Arábia Saudita.
Dammam, a capital do petróleo

A última visita da nossa viagem teve um caráter mais educativo. Nós fomos conhecer Dammam, onde fica a Saudi Aramco, gigante do petróleo que enriqueceu a Arábia Saudita. A estatal é considerada a empresa mais valiosa do mundo, com valor estimado em até US$ 10 trilhões de dólares! Foi muito interessante conhecer mais sobre a extração de petróleo e a empresa que tanto impactou na economia e desenvolvimento da Arábia Saudita.
Hoje, eles pretendem vender uma parte pequena da empresa estatal para financiar outros projetos econômicos do país. É uma medida importante para diversificar a economia, já que ela é 100% baseada em uma fonte que está se tornando mais barata com o passar dos anos. Foi curioso ver também a quantidade enorme de ocidentais (executivos, claro) na cidade.
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Bom, em resumo, esse foi nosso roteiro na Arábia Saudita! Se vocês tiverem dúvidas ou curiosidades específicas, comentem aqui que vou adorar responder!
Ps. As fotos incríveis desse post são do Paulo del Valle. Confiram muito mais registros lindos dele no Instagram!
Se esse texto é só um aperitivo para as narrativas mais detalhadas, já fico ansioso pelo que vem por aí. Adorei as informações e sua capacidade de passá-las com graça, leveza e competência. Trata-se de um país exótico, que desperta muita curiosidade.
Fico muito feliz que gostou!! Pode se preparar que ainda tem muito conteúdo pra postar sobre o assunto! 🙂
Raira, adorei ler sobre sua viagem a Arabia Saudita. Fiquei curioso para saber mais. O Christian Tanzler de Berlin vai ficar aqui em casa dia 22 de Março. Você poderia nos contar pessoalmente os detalhes. Abraços
Flavio Bitelman
Oi Flavio! Fico feliz que gostou, obrigada! Adoraria encontrar vocês, muita saudade do nosso grupo. Mas vou viajar dia 16 e só volto no começo de abril. Reúna a turma por mim!
Oi Raira, adorei a tua reportagem sobre a Arábia Saudita, estou me preparando p/ ir pra Riade a capital, muito obrigado!