A África do Sul tem três capitais oficiais: Pretória é a administrativa, Cidade do Cabo é a legislativa e a pouco conhecida Bloemfontein é a judiciária. Então por que, diabos, ouvimos falar tanto de Johannesburgo?! A resposta não é bonita: a cidade, a maior do país, foi cenário dos acontecimentos mais marcantes da luta contra o Apartheid, o regime segregacional que a África do Sul viveu de 1948 a 1994.
Durante 46 anos, os negros viram sua cidadania ser progressivamente revogada – a certo ponto, nem mesmo direito a viver nos centros urbanos a população negra tinha mais. Por isso, ao redor de cidades como Johannesburgo, formaram-se dezenas de distritos, onde essas famílias tinham permissão de morar e não precisavam coexistir com a “elite branca” pelas ruas da cidade. O maior e mais famoso desses distritos chama-se Soweto (de “South Western Townships”), que você já deve ter ouvido falar em livros didáticos ou reportagens sobre o Mandela.
Pouco importa se você viaja com interesse por história ou não, serei categórica: não dá pra ir à Johannesburgo sem conhecer Soweto. O distrito ou cidadela ocupa uma área de 150 km² e, segundo meu guia, abriga a única rua do mundo onde viveram dois contemplados pelo prêmio Nobel. Trata-se da Vilakazi Street, onde estão as casas de Desmond Tutu e Nelson Mandela, ambos ganhadores do Nobel da Paz.


A pequena casa de Mandela foi transformada em museu, o Mandela House, onde um cuidadoso trabalho de restauração permite ao visitante conhecer a casa exatamente como era quando ocupada pela família, com móveis originais. Há fotos e alguma informação expositiva, mas a visita vale mesmo pela emocionante experiência de ver onde e como viveu Mandela, um dos grandes líderes da atualidade e a pessoa mais inspiradora que vive nesse planeta. Pode parecer exagero, mas você vai concordar comigo se ler sua autobiografia, “Long walk to freedom” – o que eu recomendo fortemente, já que contribuiu para que minha viagem fosse ainda mais impactante.

Na cidade há outro museu sobre o período, esse com mais informações, fotos e vídeos. No Apartheid Museum, os fatos históricos que conheci por meio do livro de Mandela ganharam uma nova dimensão. Foi uma experiência muito intensa, sofrida mesmo, mas necessária para que eu pudesse começar a entender de verdade o que se passou naquele país. Minha viagem teria sido em vão se eu saísse de lá sem esse entendimento.

Para fazer a visita no distrito, assim como qualquer city tour mais completo na cidade, é recomendável contratar uma operadora ou um guia indicado pelo hotel. A cidade tem índices altos de violência, e há bairros onde os turistas não devem circular. Previna-se e ande acompanhado, além de pedir informações sempre com o recepcionista do seu hotel.
Em Johannesburgo, me hospedei no Monarch Hotel, que fica bem próximo à Rosebank Gautrain Station (que leva até o aeroporto) e ao metrô novinho, construído para a Copa de 2010. É um hotel lindo, que ocupa um antigo correio dos anos 30 e tem apenas 12 quartos, todos com mobiliário de época e clima super-romântico – a diária parte de 1.500 rands, ou R$ 330 . Os funcionários foram muito atenciosos e me ensinaram como chegar de metrô até a turística Mandela Square, praça com restaurantes, lojas e uma estátua enorme do estadista. O metrô, inclusive, leva até a cidade vizinha de Pretória – bom passeio para quem tem mais tempo na cidade e quer se aprofundar na história.



Johannesburgo é a melhor cidade do país para fazer este mergulho na história – que não vai ser a parte mais divertida da viagem, mas talvez seja o que você trará de mais importante. Felizmente, o país progressivamente supera as amarras do Apartheid, e tem se tornado cada vez mais conhecido por motivos leves, levíssimos: me refiro aos vinhos sul-africanos. Se tiver interesse, confira o post sobre as vinícolas sul-africanas e faça um mergulho etílico nesta nova África. Cheers!
*Todos os posts sobre a África são resultado de uma viagem de imprensa realizada em parceria com a Nicky Arthur PR e a South African Airways.
Num dia desses eu estava lendo este livro e lembrei que vc leu em 16 dias (se não me engano) em meio a uma viagem dessa, foi isso mesmo? 800 páginas?
Parabéns pelo blog, cada vez mais delícia.
Obrigada! 🙂 Na verdade, quando estava lá li a versão simplificada, que tem umas 200 páginas. Foi o primeiro livro que li em inglês, então fui modesta haha
Olá, eu sou Thalita Santos e tenho muita curiosidade em saber como você descobriu o que queria fazer da vida, como você começou e se “deu certo” logo de cara.
Se pudar, responda. Me ajudará muito <3
Oi Thalita! Eu sempre gostei de escrever e sabia desde nova que queria fazer jornalismo. Aí, no segundo ano da faculdade, passei no processo seletivo pra fazer estágio na revista Viaje Mais, da Editora Europa. Foi onde aprendi muito sobre turismo, sobre como escrever uma reportagem e ainda tive a oportunidade de conhecer muitos lugares, até fora do Brasil! Foi o começo de tudo. Acho que fui me descobrindo conforme as oportunidades apareciam, e nunca deixei nenhuma escapar! 🙂
Muito obrigada por responder!
Eu sou nova e apaixonada por fotografar, viajar e escrever. Tenho 14 anos e daqui 3 anos já estou me formando em hospedagem, mas pretendo fazer jornalismo depois de me formar.
Enfim, você me ajudou muito mesmo, obrigada.